terça-feira, 11 de setembro de 2012

A eleição de desenhos animados

Passando todos os dias por milhares de cartazes eleitorais, ouvindo os programas políticos no rádio e na televisão é comum nos passar pela cabeça a semelhança com que todos os candidatos se assemelham a desenhos animados. Difícil se identificar com qualquer ideologia ou pensamento mais complexo ao se deparar com as figuras, logotipos e imagens associadas ao candidato ou candidata. Logo no começo da campanha, fiquei muito admirado com um candidato de pele parda que sempre votei para vereador e deputado: no cartaz novo de sua candidatura a prefeito ele está rosado! Lembrou-me muito o “menino marrom” e o “menino cor-de-rosa”, do Ziraldo! Só que nesse caso são a mesma pessoa! Outro caso curioso é uma candidata, baixinha e gorducha, até simpática (se eu não fosse crítico à sua linha política), que ganhou ares de Gisele Bundchen, nos cartazes da candidatura, nitidamente retocados - como todos - em softwares de edição de imagem. Repórteres, carteiros, palhaços, delegados, filósofos, nossa vida política é recheada de personagens que nos parecem saídos de desenhos animados, porque só existem no mundo das idéias, mediadas pelos meios de comunicação a preencher as lacunas no imaginário coletivo. O heroi mitológico, salvador, personagem das fábulas e romances, lança sua candidatura ao cargo público, brandindo seus artefatos mágicos em mundos virtuais, utópicos, apresentando o futuro político da urbis como o nirvana de cada eleitor. Como todo heroi ele defende sozinho a cidadela sitiada contra o hades em que vive o cidadão. O heroi que não depende de exército de vereadores, secretários e assistentes. Olhando cada programa eleitoral fico me perguntando por que se paga tantos funcionários públicos? Bastava um escudeiro real, um sancho pança para cada prefeito e só. O heroi mitológico atual carrega em cada armadura, em cada escudo e em cada cavalo um código de barras. O heroi atual é defensor do consumo. A luta pela água e pelo pão de outrora é hoje a luta por uma fila menor no caixa do supermercado. Mas isso é outro capítulo da nossa grande epopeia. Resta-nos o lembrete de que, na eleição, nem sempre o herói ganha: já vimos casos em que o bobo da corte ganhou.